E vamos para a 5ª parte da história
da Lamborghini na Fórmula 1....
1991 parecia ser o ano em que a fábrica
italiana daria o próximo passo. Os motores tinham conseguido um
nível razoável de desenvolvimento diante da concorrência e ainda
haveria a estreia do carro feito em casa.
Para este ano, Mauro Forghieri
trabalhou no consumo de gasolina, óleo e no peso. O ganho de
potência foi mais marginal (cerca de 10 cavalos) e a curva de torque
foi modificada. O 3512 ficou ligeiramente mais leve.
O investimento não foi maior pois os
italianos estavam sofrendo duplamente: com a Guerra do Golfo, o preço
do petróleo disparou e as vendas caíram. A sua controladora, a
Chrysler, também sofria com isso, combinada com a recessão
americana. E ainda havia o trabalho no carro a ser entregue à equipe
Modena.
Lambo291 |
Neste ano, a Lamborghini forneceu
motores à Ligier. Os franceses tinham fechado acordo como
“travessia” para os Renault em 1992. Após vários anos com os V8
Judd e Ford Cosworth, Guy Ligier escolheu potência e os italianos
eram a opção disponível. Com mais um apoio de seu amigo François
Mitterrand (então Presidente da França), conseguiu pagar os US$ 7
milhões pedidos...
A equipe francesa veio com um carro
totalmente novo para acomodar o V12: Ricardo Divilla, Michel Beaujon
e Claude Galopin desenharam o JS35. O carro era convencional, embora
com um grande entreeixos para acomodar o tanque de combustivel
maior, sistema de oleo revisto e o motor, e laterais extremamente
altas. A Ligier também vinha com um cambio de 6 marchas feito em
casa, abrindo mão do fornecimento que era inicialmente previsto.
Para pilotar esta máquina, vieram Thierry Boutsen e Erik Comas
(então campeao da F3000 em 1990).
Boutsen testando o JS35 em Paul Ricard |
O outro fornecimento foi dado ao Team
Modena, que correria com o carro desenvolvido por Mauro Forghieri e
Mario Tolentino e seria originalmente para o grupo mexicano GLAS (ver
a 4ª parte). Como a Chrysler vetou a equipe própria, Forghieri
convenceu seu amigo, o industrial Carlo Patrucco, a bancar a
aventura. O acordo seria simples: ele bancaria a equipe e a
Lamborghini daria o apoio técnico.
Patrucco pagou os US$ 100 mil da
inscriçao (somente 500 vezes a menos do que atual), um acordo foi
fechado com a Good Year e a estatal Agip, uma base foi estabelecida
em Modena e o Team Modena estava oficialmente inscrito na temporada
1991. Entretanto, o carro foi conhecido oficialmente como Lambo 291.
Nicola Larini e Eric van de Poele foram indicados como pilotos.
Os dois carros tinham coisas em comum :
eram em sua maioria azuis, tinham pilotos belgas e sofriam com
problemas de peso e se mostraram mal-nascidos. Os italianos ainda
tinham que enfrentar o calvário das pré-qualificações de sexta de
manhã.
A temporada começou em Phoenix, com
Larini conseguindo passar pelas pré em terceiro. Van de Poele ficou
em ultimo e desclassificado, pois o carro reserva estava acertado
para Larini e simplesmente sua cabeça ficava acima do santo antônio.
Nos treinos oficiais, Larini conseguiu um respeitável 17º lugar e
Boutsen, um 20º lugar. Comas ficou de fora do grid por pouco mais de
um décimo. No fim, o italiano conseguiu um sétimo lugar (que acabou
sendo seu melhor resultado na temporada).
Van de Poele em Phoenix (EUA). Dá pra perceber o porquê de ter sido desclassificado ? |
No Brasil, as Ligier conseguiram se
classificar, mas as Lambo, nem passaram das pré. Comas abandonou
quando estava em 11º e Boutsen se arrastou até o final, chegando em
13º. A esta altura, as coisas não iam bem nas hostes francesas...
Em San Marino, inicio da temporada
européia, mudanças na Ligier: saíram Divilla e Galopin e chegou
Frankie Dernie, que havia saido da Lotus no fim da temporada
anterior. Seu trabalho: tentar dar um jeito no JS35. Já a Modena
vinha com uma versão especial do motor Lamborghini e gasolina. Tanto
que Van de Poele conseguiu o ultimo lugar classificável das pré.
Nos treinos, os tres carros ficaram dentro do mesmo segundo, mas
Comas em 19º, Van de Poele em 21º e Boutsen, em 24º (um ano antes,
o belga tinha ficado 20 posições à frente...)
Em uma corrida um tanto quanto louca,
com direito a Alain Prost rodando na volta de apresentação, quem
ficou na pista foi se dando bem. E Van de Poele vinha fazendo uma
corrida segura, ciente das limitações do carro. E levando com
cuidado, foi subindo na classificação: aproveitando as paradas no
box para troca de pneus (de chuva para seco), fechou a 10ª
volta na 9ª posição. Na 30ª , encontrava-se em 8º, atrás de J.J
Letho. Boutsen não vinha muito atrás, com um digno 10º lugar.
Nas voltas seguintes, a briga era
intensa: um grupo envolvendo Boutsen, Van de Poele, Bailey e Hakkinen
vinha brigando intensamente. E na 50ª volta, Van de Poele conseguia
o 6º lugar com certa facilidade e se mantinha ali.
A maravilha maior aconteceu quando
Roberto Moreno, que ocupava o 3º posto, abandonou. O belga subiu
para a 5ª posição e todos os santos estavam sendo evocados pelo
Team Modena. Boutsen estava logo atrás, mas perdeu as posições
para Hakkinen e Bailey, justamente pelo motor falhando.
E o que não poderia dar errado, deu:
simplesmente na última volta, o pescador do tanque de gasolina não
funciona e o motor de Van de Poele para de funcionar a 300 metros da
chegada. De 5º cai para 9º. Foi sua melhor chegada na sua carreira
na Fórmula 1 e uma das situações mais dolorosas que quase ninguém
tem notícia...
Van de Poele em seu grande momento...não deu... |
Depois, as duas equipes voltaram à sua
rotina: as Ligier sofrendo para ficar no final do grid e a dupla da
Modena não passando das pré. Pra complicar, algumas faturas da
Lamborghini não vinham sendo pagas e o Lambo291 foi ficando de
lado...
Na França, a Lamborghini entregou uma
versão ligeiramente diferente do 3512 e a Ligier apresentou o JS35B,
já alterado por Dernie e com algumas dicas do mais novo contratado :
Gerard Ducarrouge. Novos aerofólios e laterais, além de um chassi
mais aliviado. Não houve resultado...
Na Alemanha, uma pista de alta
velocidade, a potência dos V12 falou um pouco mais alto e permitiu
que as Lambo passassem às qualificações., aproveitando que, por
conta dos resultados da primeira fase, o 7º lugar de Larini nos EUA,
a equipe foi promovida. Já a Ligier chamou a atenção pelo acidente
de Comas no treino livre de sábado. Na corrida, sem muita novidade :
Larini nem completou a primeira volta, e Boutsen em 9º.
Uma maneira controversa de passar pela barreira... |
A esta altura, a Lamborghini se via
apertada: todo o esforço feito até ali vinha sendo perdido. E pior
: ninguém batia à sua porta para negociar fornecimento de motores,
e nem a construção de um carro. Daniele Audetto, diretor esportivo, estava preocupado,
pois não havia ainda uma perspectiva para 1992. Enquanto isso,
Forghieri ia trabalhando no motor e em possíveis mexidas no
Lambo291, desde que as contas fossem pagas....
Na Hungria, na pista as coisas iam na
mesma toada: Larini conseguia se classificar para a corrida e as
Ligier iam se arrastando. Comas conseguiu um 10º, enquanto Larini e
Boutsen fechavam a raia. Mas do lado de fora, novidades : A Minardi
batia na porta para uma consulta e a Larrousse mandou um “oi,
sumida”, dizendo que agora as coisas seriam diferentes....
Buscando uma iluminação em Budapeste... |
Em Portugal, novidades na Modena:
pensando em uma possível continuidade para 1992, a equipe contrata
Sergio Rinland (ex-Brabham) e quita algumas das dívidas com a
Lamborghini, o que motiva a aparição de um carro bem modificado,
especialmente dando adeus às laterais triangulares e adotando um
desenho mais convencional. Pelo lado da Ligier, o clima agora é de
fim de festa, contando os dias para que a temporada acabe e que
chegue logo o tão sonhado RenaultV10.
O carro muda, mas o desempenho.... |
Na pista, a mesma chorumela: franceses
se arrastando e italianos não se classficando...
Mas no Japão, as coisas pareciam ter
ganho um novo rumo: A Chrysler anunciou um maior envolvimento no
projeto F1, o que levou até a Lamborghini a reduzir a pedida pelos
seus motores: cortou o preço de US$ 7 para US$ 5 milhões. Tal
redução levou à conclusão das negociações para que Larrousse e
Minardi recebessem os engenhos italianos.
Quanto ao Team Modena, a situação era
curiosa: Carlo Patrucco estava devendo algo em torno de US$ 10
milhões de dólares à Lamborghini. Mas mesmo assim, queria
encomendar um novo projeto para 1992, mas sob a batuta de Sergio
Rinland. Donos de uma personalidade muito diplomática (#SQN),
Audetto e Forghieri simplesmente o xingaram até a última geração
e quase sairam no braço. No fim, o recado foi claro : sem dinheiro,
sem carro. Pague o que deve e aí conversamos.
Mesmo assim, algum trabalho havia sido
feito e alguns esboços do que seria o Lambo292 surgiram. Mas a grana
acabou mesmo e não foi à frente. Assim, o Team Modena fez suas
últimas voltas no aguaceiro de Adelaide, abandonando depois de 5
voltas... O que restou foi um exemplar do Lambo291no museu da
Lamborghini...
Após um ano tão acidentado, a
Lamborghini, após tantas esperanças, terminava 91 com uma
tremenda ressaca. Mas havia um bom prospecto para a próxima
temporada. Embora a Presidencia da empresa tenha decidido encerrar a
aventura da “sub-contratação” de monopostos, focando somente no
fornecimento de motores e câmbio.
Não percam a próxima parte! 1992! Tá
terminando!
Conteúdo de qualidade, excelente para complementar as informações dos veículos disponíveis na Planetcar Multimarcas, muito top mesmo, gostei!
ResponderExcluirMuito bom...sempre foi fã da Lamborghini.
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