O futebolista Paulo Roberto Falcão declarou uma vez que o jogador de futebol morre duas vezes. A primeira é quando para de jogar. E hoje podemos dizer, de certa forma, que Felipe Massa está tendo a sua segunda morte. Após uma inesperada segunda chance este ano, Felipe vinha aguardando uma posição da Williams sobre uma possível renovação para 2018. E aparentemente ela veio (ou não?), levando o piloto brasileiro a anunciar, no último sábado em seu perfil no Instagram, uma nova aposentadoria da Fórmula 1 em pouco mais de um ano.
Curiosamente, nos últimos tempos Massa vinha se comportando como Barrichello, mostrando uma suspeita dificuldade de desapego, coisa que o próprio acabou por rechaçar na época. Massa mostrava que tinha a vontade de prosseguir, embora seus resultados não mostrassem a consistência necessária para justificar uma possível permanência. Mas a pressão sobre o time de Grove é forte vinda da Mercedes para emplacar um piloto seu e Massa acabou por ser coerente com o que falou anteriormente, decidindo se retirar de uma forma digna.
Após uma carreira de 15 anos, Felipe Massa tem muito do que se orgulhar. Após uma carreira bastante consistente nas fórmulas menores no Brasil e na Itália, conseguiu entrar no radar da Ferrari e uniu seu destino à equipe. Graças aos italianos, fez sua estreia na Sauber em 2002, mostrando potencial mas também uma fogosidade extrema. Tanto que ficou como piloto de testes da equipe de Maranello por um ano, voltando para a equipe helvética em 2004.
Em 2006, é promovido para a Ferrari e fez boas corridas, inclusive vencendo o GP do Brasil daquele ano. E seu auge foi em 2008, quando disputou até o fim com Lewis Hamilton o título, inclusive sendo campeão por alguns segundos. Até então, Felipe Massa talvez tenha conseguido marcar o seu lugar como um potencial piloto do grupo da frente da Fórmula 1.
Após o acidente, uma nova fase:
Entretanto, após o seu acidente na Hungria em 2009 (coincidentemente provocado pela mola saída do carro de Rubens Barrichello), Massa não foi mais o mesmo. Podem ter colaborado a má fase da Ferrari e as mudanças técnicas que não casavam com o seu estilo. Mas o fato é que a partir de então, o brasileiro não conseguiu mais ser um dos protagonistas. Talvez esta posição tenha ficado mais forte após no “Fernando is faster than you” (Fernando é mais rápido do que você) na Alemanha em 2011.
A ida para a Williams em 2014 se mostrou interessante inicialmente, pois a equipe fez um bom carro e aproveitou a potencialidade do motor Mercedes. Massa foi valorizado na parte técnica e mostrou que tinha condições ainda de fazer boas apresentações, inclusive fazendo pole (Áustria) e conseguindo podiuns. Mas a Williams não conseguiu manter o bom nível e teve que lançar mão em 2016 dos dólares do jovem Lance Stroll, que vinha de uma boa campanha na F3 europeia e alegadamente comprou cerca de 30% da equipe. Na escolha, a equipe abriu mão dos serviços do brasileiro e manteve Valtteri Bottas. Isso levou Massa a anunciar sua aposentadoria e receber todas as homenagens no GP do Brasil.
Mas não contavam com a despedida de Nico Rosberg após ganhar o campeonato daquele ano. Com isso, Bottas foi para a Mercedes e a Williams se viu apertada a chamar Massa de volta para comandar a equipe e servir de 'tutor' para o jovem canadense Stroll. E assim vem o fazendo, sofrendo com a falta de desenvolvimento do FW40 e mostrando os macetes da categoria, tal qual fez um tal de Michael Schumacher anos atrás com ele.
Quem me conhece sabe que nunca considerei Felipe Massa um dos grandes. Mas não fazia parte do grande grupo dos haters que habitam as redes sociais. O brasileiro tem qualidades e não é qualquer um que se mantêm na Fórmula 1 por tanto tempo e com alto contexto no meio. A Williams abriu mão da experiência em prol de aspectos financeiros e a aposta é de risco. Cabe agora torcer para que ele se reinvente e faça um novo caminho. Será que irá para a Formula E? WEC? Stock Car? Voltará para a organização de categorias, tal qual tentou com a F-Futuro e foi torpedeado? Todo caso, fica aqui o obrigado ao piloto e que o que fez não será esquecido. E que as novas páginas sejam tão marcantes quanto as escritas anteriormente.