Todo mundo que acompanha a Fórmula 1
quer ver emoção, ultrapassagens, carros rápidos e o que vem de
bom. Mas pararam para pensar o que tem por trás? A estrutura
organizacional para colocar o “circo” de pé. E uma das figuras
mais importantes na corrida de automóveis é o diretor de provas.
E o posto foi ocupado desde 1997 por
uma pessoa que conseguiu obter o respeito de todos os envolvidos:
Charles Whiting. O inglês era o cara que conseguia aguentar pilotos,
equipes, fiscalizar regulamentos e pistas e outras cosas. Fazer o
consenso entre isso tudo e o bonde andar. Ou seja, simplesmente se
equilibrar na corda bamba sob um tanque de tubarões.
O início de mão na graxa
Antes de ser um “cartola”, Whiting
fez a sua carreira por baixo. Inicialmente sendo mecânico de seu
irmão no automobilismo inglês, entrou na Fórmula 1 pela Hesketh em
1977. Com o fim da equipe, após o GP da Bélgica de 1978 ouviu dizer
que a Brabham precisava de um mecânico. Bateu na porta da fábrica
de Chessignton e conseguiu o emprego.
Foi o início de um belo casamento.
Inicialmente, fez parte da equipe de testes e ajudou a desenvolver o
BT46B (o famoso “carro ventilador”). Em 79, foi deslocado para o
carro de Niki Lauda. Em 80, cuidava do carro de Nelson Piquet e no
ano seguinte, tornou-se o chefe de mecânicos da Brabham.
Você se lembra da minha voz? Mas os meus cabelos...Whiting com as mãos no aerofólio da Brabham de Lauda em Brands Hatch - 1978 |
Foi um dos responsáveis a ajudar a
criar várias das estratégias técnicas e táticas usadas pela
equipe e que garantiram a Piquet vencer os títulos de 81 e 83. Ficou
na Brabham até o final de 87, quando Bernie Ecclestone vendeu a
equipe, que não dava mais tanta atenção por conta da gestão da
Fórmula 1.
Com isso, iniciou a transformação do
mecânico para o cartola. Por indicação do próprio Bernie, foi
para a equipe técnica da FISA em 1988, atuando no escrutinio
técnico. No início, todos desconfiavam, pois achavam que ele era um
“homem de Bernie” para ficar de olho em tudo que faziam e serem
copiados depois. Ele próprio demorou para se ajustar ao seu novo
papel. E muita gente achou que era verdade quando a Brabham voltou em
1989. A partir de 1990, se tornou o delegado técnico da categoria.
A partir de 1991, Max Mosley assume o
poder e o formaliza como responsável técnico.. Por este motivo, foi
envolvido no furacão em que a Fórmula 1 passou em 1994 e se viu
tomando uma série de decisões que hoje soam estranhas, mas que as
pressões levaram a tomar.
Subindo na hierarquia
Na década de 90, a FISA começou a
centralizar a figura do Diretor de Prova, bem como do starter e da
supervisão das pistas. Inicialmente, o belga Roland Bruynseraede
tinha este papel, onde ficou até 1995. Em 96, Roger Lane-Nott assume
o posto e não agrada. Antes do final da temporada, Max Mosley
convida Whiting para assumir a vaga na próxima temporada. E assim
foi.
A partir daí, a figura daquele inglês
de cabelos brancos passou a ser comum para o fã da Fórmula 1. Para
os mais recentes, vão lembrar de Sebastian Vettel falando no rádio
“que iria reclamar com o Charlie”. Aliás, o alemão levou uma
punição no México em 2017 por ter usado de termos “fortes”
para se referir a ele...
Uma história contada por Mark
Gallagher, ex-Jordan, Red Bull e Cosworth, mostra um pouco de como
ele era e seua posição sobre as “brechas”: Estava na Cosworth e
falei com ele que tinhamos uma peça que queriamos melhorar, a
despeito do congelamento de configuração.”Quebre algumas no
dinamometro, mande fotos e diga que é um problema de confiabilidade.
Os outros fazem isso e acham que eu não percebo”.
O vazio que marca presença
Se dizia que sua aposentadoria está
próxima. Dois potenciais substitutos foram para as equipes. Não se
sabe ainda quem poderá fazer este papel. Para a Austrália, será
“promovido” Michael Masi, que já acompanhava Whiting em algumas
corridas e seria o Diretor de Prova este ano da F2 e F3 (preliminares
da Fórmula 1)
Um homem que amava a categoria e o seu
trabalho. Sempre estava na pista ou visitando potenciais locais para
novas corridas. Construiu uma figura de respeitabilidade, seriedade e
até porque não dizer humanidade. Escutava a todos, mas sabia se
impor. E carregava seu piano com maestria e a Fórmula 1 deve muito a
ele onde está hoje.
Tal qual um jogo de futebol, o juiz é
bom quando não se percebe que ele está em campo. E este era Charlie
Whiting. Um carregador de piano. Fará falta. Vá com Deus, Charlie.
Nenhum comentário:
Postar um comentário