Originalmente, esta entrevista foi publicada no Formulai em abril do ano passado. Àquela época, Felipe Drugovich se preparava para estrear na FIA F3 pela equipe Carlin. O ano não foi dos melhores em termos de resultados, mas serviu para moldar mais ainda o caráter deste jovem paranaense de 20 anos.
A estréia na F2 neste fim de semana foi muito além das expectativas: obtendo uma segunda posição na largada da primeira prova, terminando em oitavo lugar. E na corrida mais curta do domingo, largou da pole position (o grid de largada é invertido entre os oito primeiros da corrida de sábado) e venceu de ponta-a-ponta.
Agora, os olhos se voltam para este piloto que vem de família de pilotos e que pode dar muitas alegrias à torcida brasileira!
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Um dos nomes brasileiros a ser acompanhados nas “categorias de base” internacionais de monopostos, Felipe Drugovich é um que merece os holofotes.
Vindo de uma família com tradição no automobilismo (os tios Claudio Drugovich, na Fórmula Ford, e Osvaldo Drugovich Júnior, bicampeão na Fórmula Truck em 1997 e 1998), o jovem paranaense de 18 anos (fará 19 no próximo dia 23 de maio) mostrando até aqui uma carreira extremamente consistente.
Desta forma, Felipe se cacifa para voos mais altos, inclusive a F1. O Formulai traz uma entrevista exclusiva com esta promessa do automobilismo nacional, que disputará este ano (NOTA: a entrevista foi feita em 2019) a temporada da FIA F3 (preliminar da F1), que se inicia em 10 de maio em Barcelona.
Sua família já tem tradição no automobilismo (seus tios foram campeões na Fórmula Ford e na Truck). A ida para as pistas foi algo natural ou rolou uma pressão?
Não. Sempre foi tudo natural, nunca me forçaram a nada. Quando tinha 8 anos, me colocaram em um kart, gostei muito e a coisa foi...Mas nunca me colocaram pressão, foi tudo bem natural.
Qual é a origem dos Drugovich?
A origem é austríaca. O nome é eslavo, mas a origem do nosso Drugovich é austríaca. E significa “filho do dragão”.
Com quantos anos você começou no kart e quais seus principais títulos?
Comecei em 2008 a andar em kart e venci vários campeonatos: Brasileiro de Kart em 2011, Copa Brasil de Kart em 2011 e 2012, Super Kart Brasil em 2012 e 2013, sendo que em 2013 corria na Europa e no Brasil. Em 2015, venci uma etapa do europeu e do mundial.
Quando você ganhou quase tudo no kart, como foi a escolha dos próximos passos? Fazer algo no Brasil ou ir direto para a Europa?
Eu já tinha ganho muita coisa no Brasil e já estava na Europa. Mas depois que fui para a Europa, o foco foi direto aqui (Felipe hoje está baseado na Itália). Hoje em dia, o único jeito de você crescer no automobilismo é vir para a Europa, tanto que a F3 brasileira acabou.
O que levou a escolher a Alemanha para começar com os monopostos?
A Formula 4, que seria o passo inicial, não tem campeonato internacional, só os nacionais. No caso, os mais fortes eram a F4 italiana e a alemã. A Alemã sempre achei mais forte e organizada. Por isso, escolhemos por ser a mais competitiva.
Como surgiu a possibilidade de fazer a MRF Challenge? (Campeonato disputado em circuitos asiáticos, nas “férias” dos campeonatos internacionais e com carros baseados em F4. Foram 8 vitórias em 12 corridas em 2017/2018) Valeu a pena para sua formação?
A possibilidade de fazer a MRF apareceu por conta de várias pessoas que conhecíamos que trabalham na categoria, que ajudam. E muita gente nos falou de como era organizada esta categoria. Escolhi fazer e valeu muito a pena, principalmente pelo fato de ter vantagem sobre os pilotos que ficam parados na Europa por conta do inverno, onde é quase impossível de treinar. Isso deu uma grande vantagem, pois continua no ritmo de corrida, não só treinando. Ajudou bastante.
Em 2017, você disputou ferozmente o título da F4 alemã e terminou em terceiro, mesmo vencendo bastante. O que aconteceu?
O que aconteceu foi que estávamos sempre muito rápidos, talvez mais do que todos. Por alguns erros meus e outras de “coisas estranhas”, não deixaram a gente ter esta constância o ano todo. Tive 7 vitórias e o campeão (o estoniano Juri Vips), 2.Mas mesmo assim a constância dele permitiu ficar alguns pontos à frente (no final, Vips ficou 9 pontos à frente de Drugovich). Enfim, foi um acumulado de coisas que não deveriam acontecer, seja por culpa minha ou “coisas estranhas”.
Por exemplo, na última etapa do ano, eu terminei em primeiro a primeira corrida. Na segunda corrida, se não tivesse acontecido um problema na bateria, que não me deixou mais trocar marcha e eu tive que abandonar. Se eu tivesse conseguido chegar pelo menos em sexto lugar, teria sido campeão. Posso dizer isso também, mas aconteceram muitas coisas, esta não foi a única causa.
Em 2017 mesmo, surgiu a oportunidade de fazer o europeu de F3. Passo para o futuro ou ocasional?
Eu fiz a última corrida do campeonato. Foi uma oportunidade de começar a preparar para o próximo ano, pois tinha certeza que iria fazer a FIA F3 (Europeu) ou a EuroFórmula. Foi um bom fim de semana, onde já consegui me antecipar com a experiência de um carro de Fórmula 3, ao invés de esperar a primeira etapa do campeonato do próximo ano.
Você foi para a Euroformula em 2018(categoria que usa chassis e motores um passo atrás da F3 europeia). Foi uma escolha consciente ou oportunidade por não ter fechado na F3?
Foi uma escolha consciente. Principalmente porque sabíamos que em 2019 iria mudar tudo. A GP3 iria virar F3, o Europeu ia acabar...Então, como todos iriam começar do zero, a melhor escolha foi ter feito um campeonato externo, onde poderia guiar mais, ter mais liberdade com os engenheiros, mexer no carro e aprender mais.
Acho que foi uma boa escolha, porque eu ganhei (risos). Coisa que seria muito difícil, não impossível, pois todos o que eu andei na F4 estavam na frente na FIA F3. Seria um campeonato muito disputado.
Mas também houve o peso do preço da FIA F3 em relação à EuroFórmula. Como todos iriam começar do zero a partir de 2019, foi uma escolha consciente.
Além das vitórias e visibilidade, o que te trouxe de ganhos para a sua pilotagem a Euroformula?
Principalmente sendo um Dallara F312, que é usado até hoje, é o carro mais perfeito que tem depois da F1, te ensina muito sobre o balanço do carro, como reagir a cada coisa...Se está saíndo de frente, você consegue compensar com o carro, usando freio, acelerador. Você aprende muito a dosar esta parte do carro, o que talvez no F4 não permita ter esta base toda.
Os pneus (Michelin) também eram muito bons. Durante uma corrida, você já tinha que ter uma idéia de poupar, como “estressar” o pneu de maneira certa...Isso que já me deu uma pequena vantagem, consegui aprender muito com isso.
Antes de fechar na FIA F3, você chegou a andar nos Estados Unidos. Esta é uma possibilidade?
Na verdade, eu fiz uma prova só, de ProMazda (equivalente a F3). Fiz porque era a minha mesma equipe da EuroFórmula, eles também fazem essa categoria. O piloto que eles tinham se acidentou e teve que ficar uma corrida de fora. Então, fui o substituir.
Estados Unidos é sim uma possibilidade. Mas no momento, estamos totalmente focados na Europa. Não pensamos muito nisso.
Sobre a FIA F3: Após os testes de pré-temporada, o que você pode dizer? Se sentiu à vontade com o carro novo?
Os testes de pré-temporada foram bons. Temos alguns pontos para melhorar, outros onde somos fortes. Depois de todos os dados coletados, estamos estudando para chegar na primeira etapa o mais bem preparados possível.
Me senti muito bem no carro, é muito legal de guiar. Fiquei até impressionado na primeira vez, porque depois que dirigi o GP3 em Abu Dhabi, achei que seria muito parecido. Na verdade, tem semelhanças, mas é menos parecido do que eu pensava que fosse.
O carro tem muita “calha” (“rake”), muito mais carga aerodinâmica. A potência, que achei que iria diminuir muito. Mas no feeling e nos dados, esta mudança é quase inexistente. Fiquei muito à vontade com o carro.
E quais as perspectivas para esta temporada? Afinal, trata-se de um grid forte, com vários pilotos de programas de desenvolvimento de equipes e/ou montadoras.
O principal objetivo é sempre melhorar a tocada, extrair tudo que posso do carro. Sobre resultado, não sabe ainda. Nos testes, não dá para se ter a ideia da real posição em que estamos, só vamos saber mesmo depois do primeiro final de semana de corrida. Mas estamos bem colocados, extraímos muitos dados do carro durante os testes. Acredito que a gente possa brigar lá na frente.
E os passos seguintes? Você consideraria se vincular a algum programa de equipe e/ou patrocinadora para chegar à F1?
Por enquanto, não estamos conversando com nenhum programa de equipe e patrocinadora. Isso é uma coisa bem delicada, tem que ver mais para frente. Os passos seguintes, a gente também tem que ver depois deste ano, não tem nada definido. O passo lógico seria a F2, mas tem muito ainda pela frente, tem que ver como será este ano.
Existe chance de uma guinada para outra categoria senão a F1?
Por enquanto, o caminho está bem traçado, focando na F1. Lógico que existem outras categorias sensacionais além da F1 como o DTM, WEC, Indy, IMSA...Todas estas categorias são boas para qualquer piloto. Mas por enquanto, o foco é a F1.
Para quem não lhe conhece, quais suas principais características como piloto?
Sempre fui bom em consistência, em ritmo de corrida. Sempre consegui ser constante, preciso para o feedback para o engenheiro.
Estou na torcida.Força Felipe!!!
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