segunda-feira, 8 de junho de 2020

CARROS QUE AMAMOS : MCLAREN 4/1C






Anteriormente, este espaço falou dos McLaren MP4/1 (1981) e MP 4/1B (1982). Carros que marcaram o nascimento da nova fase da equipe. Quem quiser, pode ver aqui sobre 1981 e 1982. Mas o foco agora é 1983, onde veio talvez o mais importante e que serviu de base para o sucesso futuro: o MP 4/1C.


Consolidado no comando da equipe, Ron Dennis e John Barnard haviam captado que, se quisessem ser vencedores, necessitavam ter um motor turbo para chamar de seu. Embora, leve e confiável, o Cosworth V8 começava a ficar para trás na corrida de potência e até o refratário Keith Duckworth (o Worth da Cosworth) já considerava abraçar o uso dos turbo (o que começou a acontecer, mas para a Fórmula Indy). Após muita discussão, conseguiram um investidor e contrataram a Porsche para fazer um motor turbinado.


Por este motivo, 1983 era considerado um ano de transição, com o desenvolvimento do TAG/Porsche sendo conduzido para 1984. Para esta temporada, Barnard e sua equipe de projetos usaram o MP4/1 mais uma vez como base, mas fizeram uma série de modificações. O carro se mostrava ótimo, com espaço para desenvolvimento. Aerofólios foram revisados e a área central foi mais estreitada para poder gerar o máximo de área na área nas laterais para otimizar o efeito solo.


Mas a proibição do efeito solo e a obrigatoriedade de um fundo totalmente plano, definido um pouco antes da temporada, fizeram com que os planos fossem mudados. John Barnard e Alan Jenkins foram ao túnel de vento e acharam uma solução simples para poder recuperar parte do apoio aerodinâmico perdido....


Como as laterais agora não precisavam ser tão largas, o objetivo agora era reduzir a resistência ao ar dos carros e recuperar parte do apoio perdido. Os aerofólios aumentaram de tamanho e as laterais ficaram bem reduzidas. A McLaren foi por um caminho diferente: resolveu atacar uma área onde o arrasto é grande, em frente do pneu traseiro. Ao invés de jogar o ar para fora, Barnard e Jenkins fizeram uma reentrância na traseira do carro. Isso aumentava enormemente a eficiência do difusor traseiro e reduzia o arrasto. Este princípio foi apelidado de “traseira coca-cola” (por se assemelhar ao gargalho de uma garrafa do refrigerante) e se tornou padrão na Fórmula 1 até hoje.




Em paralelo, foi feita uma versão, o MP4/1D, para poder fazer o desenvolvimento do TAG/Porsche V6, projetado de acordo com todas as necessidades passadas por John Barnard. O objetivo inicial era ter um carro extremamente fino, com um motor leve e de centro de gravidade baixo para poder aproveitar o máximo de espaço para gerar o máximo de efeito solo. A mudança de regulamento não mudou os planos...


A dupla de pilotos seguiria a mesma: Niki Lauda e John Watson. E o carro mostrou manter o nível dos antecessores: Lauda já obteve um terceiro lugar no Brasil, que virou segundo com a desclassificação de Keke Rosberg. Em Long Beach, a maior recuperação até hoje da história da F1: por conta do péssimo desempenho dos Michelin (os pneus eram concebidos para os turbo. Os aspirados tinham menos potência e demoravam mais para entrar na faixa de funcionamento), Watson e Lauda largaram em 22º e 23º lugares, respectivamente. Subindo o escalão e contando com os acidentes no meio do caminho, os dois fizeram dobradinha no pódio, levando os dois primeiros lugares.




O início foi arrasador e deu tranquilidade para a equipe começar a pensar no projeto turbo. Em abril de 1983, um protótipo do motor foi mostrado no Salão de Genebra. E em junho, Watson e Lauda foram testar pela primeira vez na pista particular da Porsche, em Weissach. A esta altura, o carro era acossado por problemas de confiabilidade e o máximo que se fazia era um terceiro lugar em Detroit para Watson.


(fonte: www.primotipo.com)


Os resultados dos testes foram animadores. Para acelerar o processo, um Porsche 956 também foi usado. Lauda ficou empolgado com a potência que o motor gerava, bem como a suavidade de funcionamento, em contraste ao trepidante Cosworth V8. Algumas semanas depois, o austríaco testou o carro em Silverstone e decidiu começar a fazer uma força para usar o turbo ainda em 83.



(fonte: www.primotipo.com)



Após fazer um grande peso político junto à Marlboro, em um mês e meio dois carros ficaram prontos e o MP4/1 ganhava sua versão “E”. Inicialmente, só Lauda usaria o carro e foi estreado em Zandvoort, no GP da Holanda. Estimava-se que o motor desenvolvia cerca de 600cv (80cv a mais do que o Cosworth) e o carro se mostrava rapidíssimo. Só que ainda havia muito trabalho a ser feito para ajustar a eletrônica e o atraso da entrada da turbina em ação, além de uma falta de acerto do carro. Resultado: depois de 25 voltas, abandonou por falha nos freios. Watson conseguiu ainda um terceiro lugar com o carro de motor Ford.

TAG/Porsche indo para a pista...(fonte: www.primotipo.com)



Os resultados da Holanda acabaram por fazer a equipe alinhar os dois carros turbo até o final da temporada e funcionar como uma sessão de testes estendida. Os resultados não foram animadores, mas serviu para acelerar o desenvolvimento. A versão E do MP4/1 bem demonstrativa do que seria o MP4/2 do ano seguinte.

Lauda e o MP4/1E (fonte: www.primotipo.com)


Para encerrar, um dado curioso. Após o fim da temporada, a equipe, com o apoio da Marlboro, deu uma chance de jovens pilotos testarem em Silverstone. Alinharam Martin Brundle, Stefan Bellof e Ayrton Senna...


Senna testando o MP4/1C em Silverstone (fonte: Continental Circus)


Este foi o final da saga do MP4/1, que serviu para recolocar a McLaren de volta ao jogo e preparou o caminho para a dominância dos anos seguintes. A partir de 84, a McLaren venceu 6 vezes o campeonato de Construtores em 8 anos. E apontou um novo grande nome para a categoria: Ron Dennis. 

Ron Dennis matando as saudades do tempo de mecânico ? (fonte: www.primotipo.com)



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