segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

F1 - CARROS QUE AMAMOS : MCLAREN MP4/12



Mais um capítulo da série "F1 - Carros que amamos". Agora, mais um brioso representante sulista vem dar o seu recado. Roberto Taborda fala sobre a McLaren MP4/12, que marcou o retorno das "Flechas de Prata". Aproveitem!
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Yo I'll tell you what I want, what I really, really want

So tell me what you want, what you really, really want

I'll tell you what I want, what I really, really want
So tell me what you want, what you really, really want
Sim sim, você está em um site de automobilismo. 
Mas se você tem mais de 30 anos, e entende a língua inglesa, sabe o que é essa letra acima. Estou aqui trazendo para vocês mais uma coluna carros que amamos, e a mim é o carro que mais tenho carinho dos anos 90! O McLaren MP 4/12!!!
Para falar dele, devemos voltar alguns anos no tempo;1993. O último chassis vencedor da McLaren, o MP4/8, que foi guiado por Ayrton Senna, Michael Andretti e Mika Hakkinen com motor Ford V8, era dito por muitos como em pé de igualdade pelos carros de outro planeta, alcunha dada por Ayrton aos Williams FW14 e a família FW15.
Porém, mal sabia Ron Dennis que depois do 4/8, a McLaren entraria numa maré de resultados, digamos, discretos. Uma associação com a Peugeot em 94 (e vários pistões voando) não deixou saudade. Em 95, Tio Ron recebeu a estrela de três pontas da Mercedes Benz, vinda da Sauber, e tinha a aposta certa de que voltaria a ter apoio de montadoras. Entretanto, os chassis McLaren foram piorando ao passar do tempo. 
Quem lembra do MP 4/10 (1995), apelidado no Brasil como TL Variant (devido ao inexplicável aerofólio no cofre do motor) e o MP4/11 (1996) perderam muito da beleza e da efetividade dos chassis McLaren anteriores. Passavam um ar desengonçado, entre eixos exagerado, excessos laterais... enfim. Mas a notícia devastadora nem era essa: A Phillip Morris, de parceria iniciada desde 1974, deixava a equipe ao fim da temporada de 1996. Inimaginável ver o nome McLaren sem o vermelho e branco nas pistas do mundo todo! Pois bem. E para dar mais ansiedade ainda, eis que nos testes de inverno a McLaren me faz o que?



Bom, isso significa o que? Vermelho e branco garantido! Afinal a Zakspeed usava vermelho e branco com a mesma tabagista nos anos 80... todos nós achamos! Pois então...
Ao som de Wannabe e com as Spice Girls, líderes da Billboard naquele momento, e que abriram essa humilde coluna, que nos é apresentado o.... 

Surge o flecha de prata moderno. E um carro lindo! Lindo! Afilado, detalhes em vermelho em uma prata predominante em degrade de um preto. 
Aerodinamicamente, um carro com retrabalho em todas as áreas, bico muito baixo para o padrão da época, sidepod’s mais largos e reforçados por força do regulamento de segurança do cockpit, cofre de motor em degrau, com o aerofólio traseiro de fluxo de ar muito livre... Motor Mercedes Benz FO110E, 10 cilindros, Pneus Goodyear, que iriam sofrer um bocado com os Bridgestone naquela temporada... E um segredinho escondido dentro do cockpit: Dois pedais de freio. Um pedal extra permitia que o piloto freasse apenas as rodas traseiras... isso deu muito pano pra manga, mas em 1997 passou batida e a McLaren tiraria muita vantagem disso...
Falando na dupla de pilotos, Mika Hakkinen e David Coulthard traziam velocidade e prejuízo até então. Hakkinen era fã de acidentes, levou suspensão levou em 1994 e até em coma esteve no fim de 1995; Coulthard entrou na F1 pela porta mais importante possível em 94, porem sucumbiu em 95 quando efetivado na Williams e recebia nova chance de quem lhe deu um teste em 1990. 
Eu, em minha longínqua Uruguaiana RS, distante 600km de Porto Alegre fui enganado pela distância que estava da TV! Achava que o carro era preto e branco! Até sair as primeiras fotos nas revistas da época compradas na banca da praça central da cidade. Mesmo assim me apaixonei imediatamente pelo desenho agressivo desse primeiro modelo que teve o toque de midas de Adryan Newey... Sim, o engenheiro já consagrado pelas passagens pela Fittipaldi, March, Williams, havia sido retirado a peso de ouro da Esquadra de Frank Williams, mas com muuuuita polêmica, tanto que ele ficou de molho alguns meses sem aparecer oficialmente.
Ok! Mas vamos ao que interessa. Pré temporada. O carro tem muito potencial. Porem..., entretanto, todavia... quebra a cada esquina. O FO110E é um canhão. Mas frágil. Tanto Hakkinen quanto Coulthard são vistos parados nos testes, ainda liberados, de pré-temporada em 1997, levando tempo no cronometro e de KM rodados até para a novata Stewart, e com uma Tyrrell no cangote.  Porém o que vale é a corrida; E chegamos a 9 de março de 1997. Melbourne, Austrália, que pelo segundo ano apenas, abria o campeonato mundial de pilotos. O treino passou entre a esperança e a preocupação; Sim, você que está lendo hoje onde 0,5s no grid é motivo para discussões eternas de competitividade, Coulthard levou meros 2.162s para se classificar numa ótima quarta colocação do grid, enquanto Hakkinen não menos preocupantes 2.602s para o pole Jacques Villeneuve na Campeoníssima Williams. Pelo menos estavam ambos dentro das seis primeiras colocações, junto com Ferrari e Williams. 
Na largada, bons sinais. Villeneuve já fica fora, Irvine idem. Frentzen se atrasa com a estratégia da Williams (não é de hoje viu), e ainda sofre um problema de freio e sai rodando no fim da reta principal; e Schumacher se atrasa com uma troca de pneus que demora devido a um problema na roda dianteira esquerda; 
Eis que depois 1:30:28s,728, um McLaren cruza a linha de chegada na primeira posição, sendo essa a segunda vitória de David Coulthard na carreira, a primeira da McLaren desde Adelaide 1993 com Ayrton Senna e... A PRIMEIRA DA MERCEDES BENZ DESDE 1955 com Juan Manuel Fangio. (CURIOSIDADE 1: Austrália e Coulthard não eram muito amigos. Ele bateu na entrada do box liderando a prova de Williams em 1995...)

Mika Hakkinen passa em terceiro. A McLaren parecia estar de volta. Dois pilotos no pódio Benneton relegada a quarta força? Ameaçando a Ferrari? Não não ainda... O carro continua frágil e o desempenho só cai até o verão europeu. Foram 11 abandonos, 6 de Coulthard e 5 de Hakkinen, nesse entremeio com uma surpreendente pole position em Silverstone do Finlandês e um pódio na Alemanha na derradeira vitória de Gehrard Berger na F1; até que chegamos a Monza;
Um final de semana muito pesado. Tenso. Uma semana antes a Princesa Diana morreria em um acidente de trânsito na França... Muitos ingleses no circo da F1. Porém a prova ocorre normalmente e depois de uma procissão onde ninguém consegue passar ninguém, os boxes decidem: O pole Jean “Chris Amon moderno” Alesi tem no pit a sua equipe Benneton mais lenta que a equipe de pit da McLaren e Coulthard, vindo de Sexto do Grid, lembrou a todos porque era chamado de Dragster Coulthard desde a F3 e pulou para terceiro na largada, chega em segundo na hora do pit, sai na frente, dali não mais sendo retirado e vencendo a segunda prova do ano. E a volta mais rápida foi de Hakkinen. 
Parecia que a McLaren tinha se acertado. E chegamos a Jerez. Decisão de campeonato, os três primeiros do grid (Villeneuve, Schumacher e Frentzen) cravados naquele eterno 1.21.072... Seguidos de um emergente Damon Hill em ótima forma na Arrows Yamaha e pelos dois McLaren... A história da decisão sabemos, porém, alguns códigos no rádio de Villeneuve ao fim da prova, com lembretes das “ajudas” e da “importância” da McLaren durante a prova (lembrando que a Ferrari e Sauber também se envolveram em algo parecido, o que sepultou a carreira do argentino Norberto Fontana na F1...) e a deliberada tirada de pé do Canadense na última volta deixaram no ar que ouve algum tipo de “acordo” inglês... nunca comprovado claro! 
O importante é que Mika Hakkinen FINALMENTE venceria a sua primeira prova na F1, com David Coulthard em Segundo... três Vitórias numa temporada que começava com nova parceria econômica, com novas especificações técnicas, carro praticamente do zero...
Como na apresentação do carro as Spice Girls cantaram...
Vou te dizer o que eu quero, o que eu realmente, realmente quero
Então me diga o que você quer, o que você realmente, realmente quer

A McLaren queria voltar aos tempos de glória, e a Mercedes queria voltar a dominar a F1 depois de quase 50 anos. Tudo isso se iniciou pelo MP4/12;