Após a Parte I e II, chega a
hora de finalizar a saga do Copersucar F5A (só lembra que tenho que
concluir a sequencia de 89...). Após um ótimo 1978, parecia que o
F5A havia cumprido seu papel com louvor.A equipe Fittipaldi mostrava
que podia sim se bancar no meio das grandes e preparava o seu grande
passo.
Mesmo com todo o esforço feito, a
equipe definiu que os dois primeiros GPs de 1979 seriam feitos pelo
F5A, que havia terminado o ano em grande forma. Como o GP da Africa
do Sul seria somente no início de março, a ideia era aproveitar o início
do ano para tentar desenvolver o novo carro. Caso os testes fossem
positivos, a estreia poderia ser antecipada para o GP do Brasil.
Após mais de um ano de trabalho e
cerca de três milhões de dólares gastos, a Fittipaldi impressionou
a todos no dia oito de janeiro de 1979 quando apresentou o F6. Era um
carro extremamente atraente e esmerado nos detalhes. O bico afilado,
inspirado no Concorde, os retrovisores embutidos, laterais curtas,
com os escapamentos saindo através delas. Era um carro concebido
para ser “asa” desde o início, construído em honeycomb de
alumínio (tipo de “colméia” formada por camadas de alumínio e fibra) e magnésio, o que levava o carro
a ficar bem próximo dos 575 kg mínimos regulamentares.
Ralph Bellamy, o projetista trazido a
peso de ouro da Lotus, dizia com orgulho que o F6 seria “o carro
que a Lotus usaria este ano”. As esperanças eram enormes e os
irmãos Fittipaldi eram somente sorrisos. Mas o carro foi à
pista....
A CARRUAGEM VIROU ABÓBORA
As esperanças se esvaneceram
rapidamente. Após tentar dar algumas voltas e brigar com o carro,
Emerson encosta e reporta que “tem algo de errado”. Bellamy diz
que carro asa é assim mesmo e que o brasileiro teria que se adaptar.
Após uma troca de palavras duras, Emerson vai embora de Interlagos e
a tempestade se abateu sobre a equipe.
De acordo com Wilsinho em entrevista à
revista Quatro Rodas em 1980, logo após este teste, levaram o carro
para testes na fábrica e verificaram que o chassi não tinha a
torção necessária para aguentar a força que a carga aerodinâmica
gerava. Anos depois, Ralph Bellamy, em uma entrevista à revista
inglesa Motorsport, dizia que o problema eram os rolamentos de roda e
um pouco da torção do chassi.
Àquela altura, não tinha o que ser
feito: seis chassis haviam sido construídos e uma temporada tinha
que ser feita. A saída era tentar salvar o carro por conta de toda a
montanha de recursos gastos. Bellamy pediu seis meses para tentar
corrigir os problemas e mostrar que o F6 poderia ser competitivo.
F5A nos testes de Interlagos (fonte: flatout.com.br - Paulo Bogocian Filho) |
Desta forma, o planejamento inicial foi
mantido: o F5A foi usado nos dois primeiros Gps, Argentina e Brasil.
No dia 21 de janeiro, Emerson alinhou seu carro na 11ª primeira
posição (com um tempo três segundos e meio mais rápido do que no
ano anterior) e fez uma ótima corrida, brigando com Villeneuve
(Ferrari) e Jabouille (Renault) durante a primeira parte da corrida,
obtendo um sexto lugar no final das contas, que poderia ter sido um
quinto, se a equipe não tivesse se equivocado em avisar Emerson
sobre as voltas restantes, já que Mario Andretti estava com
problemas.
Os testes continuaram e a equipe andou
com os dois carros no Brasil. Após avaliações na 6ª feira,
Emerson decidiu ir com o F5A, pois este foi 1 segundo mais rápido do
que o modelo mais novo. Após conseguir a nona colocação, Emerson
conseguiu dar um salto para a sexta posição logo na largada e
assumiu a quarta na volta seguinte, ao ultrapassar Scheckter
(Ferrari) e com o abandono de Andretti (Lotus).
O que parecia ser mais um final feliz
foi interrompido na 20ª volta: a roda traseira se soltou e levou
Emerson a parar nos boxes. Apesar do bom desempenho, só foi possível
escalar até o 11º lugar.
O planejamento previa que este seria a
última corrida do F5A. O F6 seria usado a partir da África do Sul.
Mesmo com a série de testes, o carro não evoluiu e Emerson não
passou de um 13º lugar. Com isso, a equipe optou por retornar com o
“velho F5A” em Long Beach. Largando em 16º, Emerson fez uma
corrida discreta, abandonando na 20ª volta por problemas de
transmissão.
F6 fazendo sua estreia na África do Sul |
SOBREVIVER ERA PRECISO
A esta altura, Ralph Bellamy foi
demitido e o F5A foi continuando seu serviço, no início da fase
européia da temporada. O problema é que, mal ou bem, o carro já
tinha pelo menos 2 anos de uso e não tinha muito mais a ser
melhorado. Mesmo assim, a Fittipaldi ainda tentou desenvolver o F5A,
colocando laterais iguais a da Ligier e um aerofólio traseiro
copiado da Renault.
A estratégia era sobreviver: na
Espanha, 16º lugar no grid e um 11º lugar final, após ter caído
para a última posição na largada. Sofrimento na Bélgica, ficando
na penúltima posição e chegando em 9º, duas voltas atrás. As
críticas e as piadas voltavam com força contra Emerson e a
Fittipaldi.
Monaco teve uma lufada de esperança:
No primeiro treino, Emerson conseguiu a 4ª colocação. Entretanto,
no sábado, o carro deu problemas e todos os outros conseguiram
melhorar bastante, o empurrando para a 17ª posição. Na corrida, um
problema de motor não permitiu que fizesse mais do que 17 voltas.
O cancelamento do GP da Suécia deu
mais tempo para que a Fittipaldi pudesse se organizar. O Studio Fly
foi novamente convocado para tentar salvar o F6 e Ricardo Divilla
tentava melhorar o que era possível no F5A. No GP da França, em 1º
de julho, o “velho” iria para a briga: 18º no grid e um abandono
na 53ª volta, quando estava na 11ª posição.
No último GP, na Inglaterra, o
sofrimento veio: Emerson conseguiu se classificar em 22º lugar após
um tremendo esforço em sua última volta do treino. Mesmo assim, não
resultou muito: o motor deu problemas na 25ª volta quando estava na
17ª posição.
Logo depois do GP da Inglaterra, o F6A,
versão revisada, era testado por Emerson em Silverstone: o bico
“Concorde” foi abandonado, as laterais tipo “Ligier” foram
incorporadas e vários tubos de aço foram colocados no monocoque
para tentar resolver o problema de torção. Mesmo ainda apresentando
os mesmos problemas, a equipe resolveu adotar o F6A definitivamente
até o final da temporada.
RESUMO DA ÓPERA
Assim terminou o serviço do F5A: 24
GPs disputados, 14 pontos conquistados e um segundo lugar no GP do
Brasil de 1978 (além da Corrida dos Campeões em Silverstone).
Marcas muito dignas para um carro “adaptado” e em um momento em
que a Fórmula 1 passava por um momento enorme no campo técnico.
Equipes como a Mclaren e Tyrrell tiveram problemas sérios por não
conseguirem se adaptar a esta nova realidade.
É bom fazer um texto deste para
recordar esta “loucura” feita pelos irmãos Fittipaldi em fazer
um Fórmula 1 brasileiro. Com várias dificuldades, conseguiram
resultados extremamente satisfatórios e foram massacrados por muita
gente. Mas o importante é o reconhecimento e não deixar esta página
histórica do nosso automobilismo ser apagada.