segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Tradição ou dinheiro?


Muita gente ficou animada quando a FIA anunciou que a Hankook, fabricante sul-coreana, havia apresentado uma proposta para participar do processo de escolha da nova fornecedora de pneus para a Fórmula 1 no período 2020-2024 juntamente com a Pirelli. Erradamente se julgou que seria um retorno à “guerra de pneus”.

Entretanto, a FIA e a Fórmula 1 deixam claro na documentação da licitação que a escolha é para um único fornecedor.  E este foi um dos motivos que fizeram a Michelin não entrar. Os franceses até se animaram em participar pela introdução do aro 18, mais próximo ao tipo utilizado diariamente. Mas o fato de um fornecedor único, bem como as características de desgaste e a exigência de ter que fabricar pneus de 13 polegadas por um único ano (2020), não animou a marca do Bibendum a tomar parte.

Quando o processo de escolha foi lançado, perguntaram se a Good Year e a Bridgestone não gostariam de voltar. Os americanos se arrependeram de ter saído na década de 90, mas vem passando por um grande processo de reestruturação financeira, não tendo condições de voltar agora. Já os japoneses não concordam com o conceito de “degradação acelerada” solicitado anteriormente por Bernie Ecclestone.

No documento de convite para a licitação, a FIA estipula quais são os parâmetros que devem ser seguidos pela fornecedora. Eis alguns deles:
- O fornecedor terá que desenvolver pelo menos três tipos de pneus:
  • Duro: com 2 segundos de degradação com pelo menos 22% de corrida;
  • Médio: 2 segundos de degradação com pelo menos 18% de corrida e 1,2s mais rápido do que o composto Duro; e
  • Macio: 2 segundos de degradação com pelo menos 10% de corrida e 2,2s mais rápido do que o composto Duro; 
- Uso dos cobertores térmicos até 2020. A partir de 2021, com a introdução do aro 18”, não serão mais permitidos; O fabricante deverá prever que os pneus não fiquem “vitrificados”, mesmo quando a temperatura de pista esteja abaixo de 10 graus celusius;
- Neste sentido ainda, compostos especiais deverão ser desenvolvidos para os testes de inverno (pré-temporada). Esta exigência vem na esteira do que aconteceu este ano em Barcelona, quando as equipes tiveram dificuldade de testar pelas baixas temperaturas e os pneus não chegavam à temperatura de uso;
- Pelo menos dois testes oficiais por ano deverão ser organizados pela fornecedora, às suas expensas e a quantidade de pneus utilizada seria descontada do total de 110 jogos cedidos para cada competidor (atualmente, seriam 5 jogos e meio por corrida para cada piloto)
- O fornecedor deverá entregar às equipes pneus protótipos pelo menos até 1 de dezembro do ano anterior ao campeonato (ex: para 2020, o fornecedor tem que entregar até 01/12/2019). E o modelo para os testes de resistência e túnel de vento até 1º de janeiro de 2019; e
- Está prevista reunião de 3 meses com um grupo de trabalho formado pela fornecedora, equipes, FIA e Fórmula 1 para avaliação do desempenho.

Existem alguns itens mais técnicos que merecem ser discutidos mais à frente. Mas o fato é que agora, as propostas serão discutidas tecnicamente e financeiramente. As negociações serão tocadas pela FIA e FOM (Liberty Media).

Aí se pergunta até onde o processo pode ser honesto. A Pirelli está a bastante tempo na categoria (2010), conhece bem os meandros da coisa e tem interesse em continuar. Já a Hankook, embora não seja necessariamente uma novata (foi fundada em 1941) e já milite no automobilismo em categorias de certa envergadura como a EuroF3, DTM e F4 Britânica, vê a Fórmula 1 como um possante instrumento de marketing e demostrar que tem um produto de alta qualidade. E aparentemente está disposta a abrir a carteira para vencer este certame.

Sabemos que muitas vezes, um processo deste tipo é feito para “satisfazer a plateia”, pois as decisões já foram realmente tomadas. Alguns dizem que as características técnicas foram feitas sob medida para a Pirelli, dando um “jeitinho” para que a Michelin não participasse.

O fato é que não existe bobo nesta história. Não há um prazo para que a FIA anuncie o vencedor da licitação, embora seja consenso que uma resposta não deva tardar conta dos prazos estabelecidos no próprio processo. Minha opinião é que não deve haver mudanças e a Pirelli deva continuar. Agora, se o bolso falar mais alto...os coreanos tem chance.

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