domingo, 26 de janeiro de 2020

F1 - CARROS QUE AMAMOS : TYRRELL 020



Para quem pensava que nao teria mais...ledo engano! Vamos a mais um capítulo da série "F1 que amamos". Desta vez, um carro que tinha tudo para dar certo e sucumbiu...com vocês, o Tyrrell 020, de 1991!

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LICENÇA POÉTICA: A discreta (e inoperante) elegância do Tyrrell-Honda 020
por Andre Luiz Bonomini

No grid de 1991, a F1 contava com um bólido britânico de linhas elegantes, uma equipe tradicional conduzida por um famoso chefe de equipe inglês orgulhoso de suas conquistas na pista e que depositava suas esperanças nos motores fabricados pela vitoriosa Honda para ver vitórias como sempre fazia.

Sim, a McLaren podia se enquadrar perfeitamente neste primeiro parágrafo, mas o negócio aqui é mais humilde, mesmo sem perder a fleuma de um carro de corridas feito na Grã-Bretanha. Naquele 1991, a sempre tradicional Tyrrell experimentava um breve renascimento, fruto do talento de Jean Alesi e do ousado modelo 019, obra de Jean-Claude Migeot e Harvey Postlewhaite, que trouxe a F1 o conceito do bico elevado que veríamos nos anos seguintes.

É claro, não foi uma temporada de campeão. Mas a Tyrrell conseguiu dois pódios e alguns pontos, excluindo-se desta ciranda a salada mental em que Alesi se enfiara por conta de conversações entre Ferrari e Williams para a temporada seguinte. No entanto, 1991 batia na porta, e o time de Ockham parecia estar empolgado com o que vinha no horizonte.

Mesmo sem Alesi, tio Ken celebrava um contrato de fornecimento com a Honda para ter consigo os motores V10 usados até a temporada anterior, já de fiabilidade reconhecida e que prometiam muito ao serem combinados com o novo carro que estava saindo do forno e que, depois deste nariz-de-cera de três parágrafos, será o tema de nosso segundo especial: o elegante 020, obra de George Ryton e Harvey Postlethwaite que tinha uma missão modesta mas necessária: manter-se como a quinta força do mundial.

O 020 é, teoricamente, uma continuação da ideia trazia ao time por Migeot e que entrava no radar de cópia das equipes nos anos seguintes: uma forma de criar um túnel entre a frente e a traseira e diminuir o arrasto na parte frontal. Apesar de soar ousado e curioso, o "bigode" do 019 era um adendo de beleza a pintura azul-e-branca herdado da tentativa malfadada em conseguir uma grana da Rothmans para aquela temporada e, de fato, funcionava combinado com o talento de Alesi e os pneus Pirelli.


Esta poderia ter sido a Tyrrell de 90...(fonte:projetomotor.com.br)

É nessa ideia de combinação que o 020 se apoiava. No entanto, Postlethwaite não contaria com a companhia de Migeot para 1991 (voltou para a Ferrari) e teria Ryton ao seu lado para buscar um aperfeiçoamento das melhores qualidades daquele chassi. Evidente que a chegada do motor japonês exigia algumas alterações na parte aerodinâmica como um todo. Um engenho maior e mais pesado que alterava todo o projeto em si, pedindo uma traseira mais alta e maior e um novo desenho do aerofólio dianteiro.

Em suma, o projeto mais retilíneo de Migeot ganhou uma suave ondulada nas mãos de Ryton, além de um perfil mais afunilado e fino do bico em comparação com 1990. O que parecia o ponto errático da elegância em si foi bem o contrário, e a pintura em branco-e-azul nos primeiros testes ainda o deixava belo e vistoso como fora no ano anterior.

Isto até o setor comercial da Tyrrell começar a trabalhar muito bem para tanto, e o que tinha espaços em branco demais logo estava forrado de patrocinadores, e um deles deu o toque que faltava para a beleza completa desta obra de Ockham: a multinacional de eletrodomésticos Braun, que praticamente fechou como master do time e colocou um preto muito bem vindo na combinação com o branco, que voltava ao time depois de 1988, acrecido ainda de um friso vermelho como detalhe.

(fonte:F1reddit)


Tudo estava pronto e perfeito. Um bólido refinado, com cara de brigador e os pneus Pirelli que, em tese, deveriam continuar sendo um diferencial para a equipe do lenhador. Faltava apenas uma dupla de pilotos, e de fato ela continuou "faltando" o ano inteiro.

Sem Alesi, tio Ken recorreu ao talento emergente de Stefano Modena, vindo da Brabham. O italiano tinha pinta de promissor, mas era um sujeito difícil para trabalhar em equipe: fechado, introspectivo e que mal domava o inglês. Ainda assim, prestativo e eficiente, algo que o bom soldado Satoru Nakajima não possuía por completo, sendo exatamente o oposto de Stefano: muito risonho e simpático.



Não que personalidade acrescentasse algo ao desempenho da equipe, até porque a pressão era grande com um conjunto desses. Tinha os mais afoitos que diziam que a Tyrrell estava voltando aos dias de gloria, mas não era tanto assim e nem o foi.

Apesar de belo, o 020 foi o começo do revés que o time de Tio Ken começaria a viver nos anos seguintes. O conjunto aparentemente forte até rendeu frutos louváveis durante o ano: o segundo lugar no Canadá e o segundo lugar no grid em Mônaco, isto somados ainda mais um quarto lugar nos EUA e um sexto no Japão. Todos estes resultados ditos foram conquistados pelo eficiente Modena. Já Nakajima, pra não dizer que passou totalmente em branco, bisou um quinto lugar em Phoenix e só, em um ano marcado por rodadas e quebras.

Modena em Monaco: um segundo lugar no grid. (Fonte: F1 in 90's - twitter)

Alias, quebras é que foram a constante do 020. Era duro observar um carro tão bonito parando ou se arrastando tantas vezes. A transmissão foi uma das grandes pedras no sapato de Ken, tirando o bólido da briga em momentos que poderiam gerar pontos ou até mesmo pódios, como em Imola, onde Modena chegou a estar em terceiro até a transmissão pedir arrego. Fora isto, e mesmo com a fama de fiável, o motor Honda não entregava potência condizente e não casava bem com o novo chassi que também sofria com o desempenho inconsistente das borrachas da Pirelli.

Honda V10: pronetia, mas...(fonte: F1 in 90's -twitter)

Pra piorar o quadro, Postlethwaite deixou o time na metade do ano seduzido por um convite da Mercedes. Além do mais, os cheques da Braun nao tinham fundos...O jeito foi tentar, com o que se podia ter em mãos de atualizações possíveis, manter a posição de quinta força. No entanto, a segunda metade de 1991 foi um desastre, com o melhor resultado sendo o sexto lugar de Modena no Japão. Fora isto, uma coleção de abandonos e nenhum top-10. No final, o sexto lugar no mundial de construtores poderia ser um prêmio de consolação se não fosse justo atrás da estreante Jordan, já uma quinta força em potencial no circo.

Era um quadro pesado para um time tradicional e que apostava suas fichas num projeto que talvez tivesse futuro com uma melhor direção de seus destinos. O 020 ainda resistiu mais duas temporadas (1992 e o começo de 1993) mas sem repetir os desempenhos e a beleza de 1991. E se os resultados não vieram, ao menos a elegância do carro não morreu em terra, só passou mais despercebida pelas lentes das câmeras de TV, para tristeza de admiradores como eu.


2 comentários:

  1. O carro era lindo demais. O projeto audacioso. Mas os propulsores eram do ano anterior e o chassi não era compatível para ser adequado ao projeto audacioso de Harvey Postlewhaitle

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    1. O chassi teve que ser bem mudado para se adequar ao Honda V10. E isso matou um pouco da eficiencia do projeto.

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