domingo, 29 de março de 2020

F1 - CARROS QUE AMAMOS - MCLAREN MP4/1 (Parte II)




Vamos à segunda parte da história do McLaren MP4/1, um carro que marcou a F1 por ser precursor em tecnologia e ser o veículo de um novo domínio na categoria. A primeira está aqui.



1981 foi um ano de reorganização. Para 1982, a equipe se valeu de um programa de desenvolvimento montado no túnel de vento do Instituto Nacional da Marinha Britânica e no centro de desenvolvimento da Michelin, com quem o desenvolvimento técnico aumentou. John Barnard entendeu que o MP4/1 era uma boa base e procurou mexer em detalhes, aperfeiçoando suspensões, aerodinâmica inferior e redução de peso. Assim veio o MP4/1B.



O carro continuava a ter o chassi desenhado na Inglaterra, os painéis de materiais compostos fabricados pela Hércules nos Estados Unidos e novamente montados na Inglaterra. O motor continuava a ser o velho de guerra Cosworth V8. Embora se começasse a pensar em um turbo...Mas isso é papo mais para frente...



Tratando de pilotos, a equipe dispensou Andrea De Cesaris, que foi para a Alfa Romeo. John Watson foi mantido e atendendo a um pedido da Phillip Morris, foi atrás de um piloto de ponta. A escolha foi Niki Lauda, que havia deixado a Brabham em 79 no meio do GP do Canadá. O austríaco a esta altura estava envolvido com sua companhia aérea, a Lauda Air. Após uma negociação pesada e testes em Donington Park e Paul Ricard, Lauda foi anunciado como o novo piloto da McLaren.

Só que o acordo foi curioso. Como Lauda estava parado há mais de dois anos, a Philip Morris não queria bancar um grande contrato. Aí foi feita a proposta: pagavam o salário pedido por ele, mas faria-se um contrato inicial de três provas, que poderia ser renovado por mais três provas. Caso não conseguisse bons resultados, as partes abririam mão e vida que segue. O austríaco aceitou.

Lauda, Barnard e Watson: o trio de ferro da McLaren




As apostas se mostraram certas. Lauda voltou com a competência de outrora e ajudou a confirmar o potencial do MP 4/1B. Chegou em 4º logo na Africa do Sul e venceu o GP de Long Beach, logo em sua terceira prova após o retorno. E teve seu contrato renovado para o resto da temporada. Ganhou também na Inglaterra e poderia ter obtido em 3º lugar no soturno GP da Bélgica, mas foi desclassificado por estar 2kg abaixo do peso mínimo. No fim, obteve 30 pontos, chegando em 5º lugar.


Lauda colocando a equipe para trabalhar ao seu redor...




E o que deveria ser o “segundão”, foi um dos postulantes daquela louca temporada. Watson obteve um 2º lugar no Brasil, venceu na Bélgica e em Detroit, onde contou com uma série de situações (incluíndo uma batida na 6ª volta). Uma sequencia de 6 abandonos o prejudicou, mas chegou até o final ainda em condições de disputar o título. Acabou em 3º lugar, empatado com Didier Pironi, com 39 pontos.


John Watson rumo à vitória em Detroit



O desempenho em pista havia sido interessante, a despeito de uma série de problemas técnicos. Mas o lado de fora acabou por ser mais ainda...



Como dito no início do texto, a Mclaren foi uma daquelas equipes que percebeu que, se não tivesse um motor turbo para chamar de seu, ficaria para trás. E este processo ajudou a detonar uma mudança maior ainda...



Desde o início, o processo de fusão da Project Four e a McLaren não correu em águas calmas. Ron Dennis e Teddy Mayer começaram a ter uma série de desavenças sobre os rumos da equipe. A decisão sobre os motores acabou por detonar tudo. Mayer e Tyler Alexander se preocupavam com a escalada de custos e advogavam que a McLaren deveria usar um motor existente, como o BMW ou o Renault.




Já Ron Dennis, em conjunto com John Barnard, não estavam satisfeitos com este tipo de solução. Barnard então era mais incisivo na posição de não aceitar soluções correntes. E surgiu a idéia: e se alguém fizesse um motor para nós?



Após algumas consultas no mercado, um dos nomes que havia na lista era a Porsche. A marca alemã já havia participado da F1 nos anos 60 e volta e meia era citada como uma potencial fornecedora. E quando houve a reunião da McLaren, a resposta era: não nos interessa ser fornecedora de motores.



Mas Ron Dennis, bom negociante, chegou para Hans Metzger, então chefe do departamento de motores, e disparou: e se alguém pagasse para vocês fazerem um motor? A conversa mudou inteiramente....



Um pré-acordo foi fechado. A McLaren seria responsável por financiar o desenvolvimento e a construção de um motor turbo. Mas a continuação estava condicionada a obtenção de fontes que bancassem o resto do programa.



Enquanto John Barnard passava o que queria para os alemães para ter um motor potente e extremamente compacto para poder obter o máximo de efeito solo possível, Ron Dennis ia em busca de apoiadores para o projeto. Esta foi a gota d´água para que Teddy Mayer e Tyler Alexander saíssem da sociedade e Ron Dennis assumisse definitivamente as rédeas do negócio, com John Barnard também entrando para o quadro de acionistas.(Tyler acabou por retornar à equipe em 1989).

Teddy Mayer, Tyler Alexander e Ron Dennis. No fim de 1982, só restou Dennis...



A Phillip Morris foi contatada para ser a investidora do projeto, mas não aceitou por achar que já gastava dinheiro demais com a equipe. Até que aparece um saudita chamado Mansour Ojjeh. Filho de um famoso negociante de petróleo, a família montou uma empresa de pesquisa chamada Technologies d' Avant Gard (Tecnologias de Vanguarda, em francês) e era um dos patrocinadores da Williams até então.



Ron Dennis apresentou seu projeto e tinha a intenção de que aquele motor não pudesse ser somente utilizado na F1, mas também em motonáutica e em outras áreas do esporte motor. Houve um acordo e a McLaren International em conjunto com a TAG, criaram a TAG Turbo Engines, que seria a responsável por contratar a Porsche para a construção e desenvolvimento de um motor turbo. Surgiu a idéia de que a Williams também usasse este motor, mas Frank Williams fechou um acordo com a Honda.



O acordo formal com a Porsche foi assinado em setembro de 1982 e em 18 de dezembro daquele ano, o primeiro protótipo rodava nos dinamômetros de Weissach: era o TTE-PO1- V6. Um bloco de 6 cilindros em V, extremamente compacto (80º) e feito atendendo a tudo que John Barnard pediu.

Motor TAG-Porsche: o futuro dominador.



1983 prometia ser o ano em que a McLaren se consolidaria no grupo da frente. Mas isso fica para a terceira e última parte do texto sobre o McLaren MP4/1. 







6 comentários:

  1. Interessante que quase tivemos uma Williams-Porsche. A história do mundial de 1984 poderia ser diferente. Parabéns pelas informações com qualidade.

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    1. Sim...por muito pouco..mas a Williams apanhou com o desenho do carro..

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