terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Lamborghini: o primeiro touro na F1 (Parte IV)

2018 terminou, 2019 começa e ainda tem texto sobre a Lamborghini sim!

1990 se configurava um ano cheio para a Lamborghini Engineering. Além da Larrousse, os italianos expandiriam seu escopo de fornecimento de motores e câmbio para a Lotus. E continuavam o processo de desenvolvimento de um carro próprio.

O grupo de Mauro Forghieri tinha trabalhado bastante em cima dos dados obtidos em 1989 e começava a temporada com uma nova versão do 3512, trabalhada especialmente na parte eletrônica (houve a troca de fornecedor: Magnetti Marelli por Bosch) e no consumo de combustível. Lotus e Larrousse receberam um motor com uma curva de torque revista e com uma potência de 645cv. Cerca de 10 cavalos a mais do que o fim da temporada anterior. Além disso, havia uma caixa de marchas longitudinal de 6 velocidades com novas especificações, trazendo mais rigidez ao conjunto, embora ligeiramente mais leve.

As maiores esperanças estavam na Lotus. A Camel havia optado por aumentar o apoio à equipe e isso permitiu fechar o acordo de fornecimento. Naquele momento, era uma cartada de tentar retomar ao caminho do grupo da frente. Frank Dernie, ex-Williams, estava mais um ano na equipe e se baseou no carro de 1989, que era tido como um bom exemplar mas com um motor fraco, e apresentou o 102. Peter Warr optou por trazer uma dupla nova e britânica: Derek Warwick e Martin Donnelly.
Warwick, Dernie, Donnelly e o Lotus 102

A Larrousse também vinha com uma versão revisada do seu carro, o L190 (agora já sem o C de Camels), feita por Chris Murphy, Gerard Ducarrouge e Michel Tetu. Impulsionada pelo investimento do grupo japonês ESPO (área de telecomunicações), a equipe preparava uma mudança para uma nova fábrica, perto de Paul Ricard, e contava com um aumento dos patrocinadores nipônicos. Além disso, trazia de volta Aguri Suzuki e Eric Bernard para a temporada.
Aguri Suzuki e o Larrousse L190

O início de ano foi claudicante para as duas. A Lotus enfrentou problemas com o sistema de óleo nos primeiros testes e viu também que o carro tinha problemas de torção e suspensão, tendo que mexer bastante no carro antes da temporada começar. A Larrousse, embora Alliot tivesse marcado dois pontos em Jerez no ano anterior, foi relegada para a pré-qualificação.

Em paralelo, a equipe de fábrica ia trabalhando no carro encomendado pelos mexicanos da GLAS. Desenhado por Mario Tolentino, o Lamborghini era feito totalmente em casa e tinha por ponto especial as laterais em formas triangulares, de maneira a reduzir o arrasto. O objetivo era apresentar oficialmente a nova equipe no GP do México.

À esta altura, a Larrousse acabou se mostrando mais eficiente. O L190 mostrou potencial, com Bernard e Suzuki passando tranquilamente pelas pré. O francês terminou em 8º em Phoenix e andou próximo das Lotus em San Marino (chegaram em 7ºe 8º). E marcou seu primeiro ponto em Monaco. Warwick também marcaria um ponto com um sexto lugar no GP seguinte no Canadá.

A esta altura, os pilotos achavam o carro com um bom torque e curva de potência (tanto que a Larrousse e a Lotus andaram muito bem nos treinos com pista molhada em Phoenix e Interlagos). Mas como jocosamente brincou Derek Warwick, “o barulho era maravilhoso, mas não vinha potência...”

No México, se daria a apresentação da GLAS. Mas misteriosamente, um pouco antes, o empresário Gonzalez Luna, a mente por trás do projeto, desapareceu. O carro estava pronto para ser enviado, mas os cheques dados não tinham fundos. Desta forma, o material ficou na Itália e a empresa entrou na justiça para reaver parte do prejuízo.

Mas mesmo assim, a Lamborghini continuou o desenvolvimento e levou o carro para a pista. Os treinos em Imola, com Mauro Baldi ao volante, mostraram algum potencial e animou a buscar um comprador para o projeto. Eis aqui algumas imagens do teste realizado, em uma reportagem da italiana RAI.


A esta altura, começava a temporada européia. E em circuitos de alta velocidade (França e Inglaterra). E a Larrousse veio com um novo pacote aerodinamico, junto com algumas mudanças trazidas no motor. No seu GP caseiro, os franceses “bateram na trave”, chegando em 7º e 8º (Suzuki e Bernard).

Mas o melhor veio à seguir: na Inglaterra, Bernard conseguiu uma ótima 4ª posição e Suzuki chegava em 6º, sendo o segundo japonês a marcar pontos na F1 Estes resultados serviram para tirar os franceses das pré-qualificações de sexta de manhã. Enquanto a Lotus ainda sofria com o chassi com problemas de suspensão.

Bernard : um ótimo desempenho na Inglaterra

Neste GP, a Lamborghini apresentou a seus clientes e potenciais interessados o seu preço para a temporada de 1991: US$ 7 milhões, com exigência de garantia bancária (depois do acontecido com os cheques mexicanos, os italianos exigiam). Quando souberam, Larrousse e Lotus reclamaram, pois se tratava de um aumento de quase 50% em relação ao cobrado para a temporada corrente.

E as negociações correram na Hungria, onde Warwick conseguia um ótimo 5º lugar, à frente de Eric Bernard. Este seria o melhor resultado da outrora gigante inglesa no ano...

Na Itália, veio a confirmação de que tanto Lotus como Larrousse não continuariam com os motores italianos. Os ingleses não teriam mais o apoio da Camel e estavam sofrendo com sérios problemas gerenciais, já que uma parte dos diretores foi presa por conta ainda do escandalo do empréstimo feito pela DeLorean junto ao governo irlandês (o Flatout tem uma ótima história sobre isso). Já os franceses já vinham batendo de frente com a Lamborghini por conta de faturas não pagas e tinham o acordo com a ESPO em dúvidas.

Mesmo com os bons resultados, a única equipe que se mostrou interessada em contar com os V12 italianos para 1991 era a Ligier. Já que a Renault só confirmou que forneceria motores em 1992, Guy Ligier precisava de uma solução para a temporada seguinte e não queria mais contar com os Ford Cosworth. Graças ao seu amigo Fraçois Mitterrand (tão somente Presidente da França), a equipe apresentou as garantias bancárias e anunciou o acordo em Portugal.

Também no Estoril, foi anunciado que o industrial italiano Carlo Patrucco, então um dos vice-presidentes da forte Confederação Industrial Italiana (Cofindustria, a FIESP de lá), montaria uma equipe para usar o carro feito originalmente para a GLAS na temporada de 1991. Muita gente diz que foi uma jogada armada para que a Lamborghini não aparecesse diretamente como responsável, mas não foi provado.

Na Espanha, dois pontos extremos: primeiro, o gravíssimo acidente de Martin Donnelly, que por muito o pouco não o matou, mas o deixou em coma por muito tempo e com grandes chances de ficar paraplégico (ele não só escapou, como anos depois voltou a pilotar). E o aspecto positivo foi o sexto lugar de Aguri Suzuki.

E o japonês surpreendeu mais ainda ao chegar no pódio de seu GP local em terceiro lugar, sendo o primeiro piloto nipônico a obter tal feito.

O ano terminava para a Lamborghini em alta conta: os italianos tinham marcado seus primeiros pontos e conseguiram se colocar como competidores do grupo do meio, marcado alguns resultados decentes. O motor, em termos de cavalaria, já passava os Cosworth. A evolução prometia, ainda mais agora também como “construtor” de certa forma, como foram suas co-irmãs Ferrari e Alfa Romeo. Tudo parecia estar em um bom caminho. Parecia...

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