sábado, 20 de outubro de 2018

A Petrobras expande seu papel na F1

Muita gente questionou o retorno da Petrobras à Formula 1 este ano. Como uma empresa enterrada em tantos problemas pode se dar ao luxo de gastar dinheiro com isso? Por que não pegar o valor do contrato (estimado em 8 milhões de euros) e investir para a melhoria do automobilismo nacional? Estas e várias outras perguntas surgiram quando foi anunciado o acordo da petroleira com a McLaren no início deste ano.

Cabe lembrar que esta é a terceira passagem da empresa pela categoria. A primeira teve início em 99, quando fechou acordo com a Williams. O objetivo na época não era somente despejar dinheiro na equipe, mas desenvolver tecnologia para seus produtos. Em pouco tempo, a gasolina desenvolvida pela Petrobras chegou aos padrões das demais e inclusive os superou posteriormente.

Um dos fatores que levaram a este resultado é justamente a qualidade do nosso petróleo. Após várias pesquisas feitas no Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES-RJ), a mistura obtida dos diversos tipos de óleo retirados tanto de campos terrestres (Amazônia) como de águas profundas (Bacia de Campos) permitiam resultados tão bons que davam ao luxo de fazer gasolinas com composições exclusivas para cada pista.

Este resultado chamou a atenção das demais equipes, que cortejaram bastante a Petrobras. Mas a questão não se materializava por conta do dinheiro: os brasileiros queriam gastar mais em combustíveis e lubrificantes e nem tanto em patrocínio.

Após um breve relacionamento com a Jordan em 2001, a petroleira permaneceu com a Williams até 2008. Este casamento, além de vitórias, permitiu o desenvolvimento de produtos como a gasolina Podium (com maior octanagem) e novos tipos de lubrificantes. Apesar de muitos pedidos e consultas, a empresa naquele momento entendeu que o ciclo havia sido completado.

Após seis anos, Williams e Petrobras voltaram a se juntar, coincidindo com a chegada de Felipe Massa e Felipe Nasr na equipe. O figurino seria o mesmo anterior: desenvolvimento de tecnologia para combustíveis e lubrificantes. E uma outra parte em patrocínio, que ajudou a bancar Felipe Massa.

Este retorno acabou não sendo dos mais produtivos dentro da pista: em 3 temporadas, a equipe forneceu somente os lubrificantes para motor e câmbio, enquanto o combustível não foi aprovado pela Mercedes (por conta disso, teve que usar a gasolina da Petronas). Mas o conhecimento acumulado permitiu o desenvolvimento da Grid e da nova família de lubrificantes Lubrax.

Em 2017, a Petrobras foi novamente procurada por algumas equipes. E iniciou conversas com a McLaren e a Renault. Para a estatal, a Fórmula 1 também seria uma forma de servir como vitrine para a sociedade de que tinha capacidade não só de extrair petróleo em condições especiais, mas de desenvolver produtos de alta tecnologia em uma das maneiras mais extremas: a competição.

Várias visitas foram feitas ao CENPES no Rio de Janeiro e muitas amostras de combustíveis e lubrificantes foram enviadas para a Inglaterra e a França. E os resultados animaram a todos, não somente à McLaren mas a própria Renault. Mas os franceses estavam amarrados ao contrato com a Britsh Petroleum (Castrol).

O acordo com a McLaren foi fechado e neste ano os carros laranja estão utilizando somente os lubrificantes. Mas o trabalho com os combustíveis vendo sendo conduzido com bastante zelo no Brasil e com a equipe avançada na Inglaterra. E neste momento, a Renault vem conduzindo testes em seus dinamômetros com uma nova evolução de gasolina entregue pelos brasileiros para homologação para uso em 2019. E reporta-se que os resultados são animadores.

A coisa boa é que as conversas voltaram a se aquecer para que a Petrobras fosse fornecedora da equipe de fábrica. A grande questão que trata é o dinheiro envolvido na questão: a estatal continua com a política de ter maior interesse no desenvolvimento e fornecimento de produtos e não ter tanto dinheiro envolvido com patrocínio. Estima-se que a BP despeje um valor de 15 a 20 milhões de dólares na Renault por temporada.

As conversas continuam e tudo indica que deveremos ter uma presença maior brasileira na Fórmula 1. Pelo menos no tanque. No volante, é uma outra história que nem muita gasolina pode dar jeito...

(Coluna originalmente publicada em cockpítf1.com em 31/08/2018)

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