Muita gente questionou
o retorno da Petrobras à Formula 1 este ano. Como uma empresa
enterrada em tantos problemas pode se dar ao luxo de gastar dinheiro
com isso? Por que não pegar o valor do contrato (estimado em 8
milhões de euros) e investir para a melhoria do automobilismo
nacional? Estas e várias outras perguntas surgiram quando foi
anunciado o acordo da petroleira com a McLaren no início deste ano.
Cabe lembrar que esta é
a terceira passagem da empresa pela categoria. A primeira teve início
em 99, quando fechou acordo com a Williams. O objetivo na época não
era somente despejar dinheiro na equipe, mas desenvolver tecnologia
para seus produtos. Em pouco tempo, a gasolina desenvolvida pela
Petrobras chegou aos padrões das demais e inclusive os superou
posteriormente.
Um dos fatores que
levaram a este resultado é justamente a qualidade do nosso petróleo.
Após várias pesquisas feitas no Centro de Pesquisas Leopoldo
Américo Miguez de Mello (CENPES-RJ), a mistura obtida dos diversos
tipos de óleo retirados tanto de campos terrestres (Amazônia) como
de águas profundas (Bacia de Campos) permitiam resultados tão bons
que davam ao luxo de fazer gasolinas com composições exclusivas
para cada pista.
Este resultado chamou a
atenção das demais equipes, que cortejaram bastante a Petrobras.
Mas a questão não se materializava por conta do dinheiro: os
brasileiros queriam gastar mais em combustíveis e lubrificantes e
nem tanto em patrocínio.
Após um breve
relacionamento com a Jordan em 2001, a petroleira permaneceu com a
Williams até 2008. Este casamento, além de vitórias, permitiu o
desenvolvimento de produtos como a gasolina Podium (com maior
octanagem) e novos tipos de lubrificantes. Apesar de muitos pedidos e
consultas, a empresa naquele momento entendeu que o ciclo havia sido
completado.
Após seis anos,
Williams e Petrobras voltaram a se juntar, coincidindo com a chegada
de Felipe Massa e Felipe Nasr na equipe. O figurino seria o mesmo
anterior: desenvolvimento de tecnologia para combustíveis e
lubrificantes. E uma outra parte em patrocínio, que ajudou a bancar
Felipe Massa.
Este retorno acabou não
sendo dos mais produtivos dentro da pista: em 3 temporadas, a equipe
forneceu somente os lubrificantes para motor e câmbio, enquanto o
combustível não foi aprovado pela Mercedes (por conta disso, teve
que usar a gasolina da Petronas). Mas o conhecimento acumulado
permitiu o desenvolvimento da Grid e da nova família de
lubrificantes Lubrax.
Em 2017, a Petrobras
foi novamente procurada por algumas equipes. E iniciou conversas com
a McLaren e a Renault. Para a estatal, a Fórmula 1 também seria uma
forma de servir como vitrine para a sociedade de que tinha capacidade
não só de extrair petróleo em condições especiais, mas de
desenvolver produtos de alta tecnologia em uma das maneiras mais
extremas: a competição.
Várias visitas foram
feitas ao CENPES no Rio de Janeiro e muitas amostras de combustíveis
e lubrificantes foram enviadas para a Inglaterra e a França. E os
resultados animaram a todos, não somente à McLaren mas a própria
Renault. Mas os franceses estavam amarrados ao contrato com a Britsh
Petroleum (Castrol).
O acordo com a McLaren
foi fechado e neste ano os carros laranja estão utilizando somente
os lubrificantes. Mas o trabalho com os combustíveis vendo sendo
conduzido com bastante zelo no Brasil e com a equipe avançada na
Inglaterra. E neste momento, a Renault vem conduzindo testes em seus
dinamômetros com uma nova evolução de gasolina entregue pelos
brasileiros para homologação para uso em 2019. E reporta-se que os
resultados são animadores.
A coisa boa é que as
conversas voltaram a se aquecer para que a Petrobras fosse
fornecedora da equipe de fábrica. A grande questão que trata é o
dinheiro envolvido na questão: a estatal continua com a política de
ter maior interesse no desenvolvimento e fornecimento de produtos e
não ter tanto dinheiro envolvido com patrocínio. Estima-se que a BP
despeje um valor de 15 a 20 milhões de dólares na Renault por
temporada.
As conversas continuam
e tudo indica que deveremos ter uma presença maior brasileira na
Fórmula 1. Pelo menos no tanque. No volante, é uma outra história
que nem muita gasolina pode dar jeito...
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